miércoles, 27 de octubre de 2010

Do outro lado

Já deve ter acabado o exame. Que sono!
Tento virar-me para o outro lado e não consigo. Isto deve ser da anestesia.Pelo menos dore não tenho, mas não me consigo virar.
Sinto uns grãos nas mãos.Que será isto? Uma agulha pica!
Grãos e um cordão? Que roupa é esta, tão apertada? Que me lembre não tenho pijamas de veludo, e sinto os os pés inchados, dentro de sapatos!
Estou louca, isto só pode ser da anestesia!
Piorei dos olhos, agora vejo tudo como se tivesse tule à minha frente. Faço isto e a seguir vou ser operada aos olhos. Estou farta de não ver bem, agora faltava-me ver tudo através de um véu!
Já estarei no recobro? Que barulheira!
Há gente que não sabe estar doente. Será preciso chorar tanto para aguentar uma dor?
“ Ai, a nossa stôra!”, ouço eu.
Como é que os miúdos entraram aqui? Nem se pode estar doente.
Está toda a gente a chorar!!
Uma pancada? O que é isto? A voz da Ermelinda? A sussurrar? Ouço esta voz, é mesmo a dela: “ Fica aí sossegadinha, minha linda! Para teu governo, ficas a saber que troquei os papéis das matrículas. A cruzinha que estava em Alemão passou para Espanhol. Era isto a dinâmica!”
Estou a delirar, já não deve ser da anestesia. E está tão escuro! Quantas horas é que eles me terão estado a retalhar?
Não me consigo virar, que dores nas costas. Detesto macas!
Macas de madeira ? É Portugal!
Madeira? Parece um caixão!
Não tarda muito que tudo venha a ser de madeira.
Que sono outra vez! As enfermeiras que tratem de mim!

27/10/2010
Fátima Pais

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